Há um mundo a ser descoberto dentro de cada
criança e de cada jovem. Só não consegue
descobri-lo quem está encarcerado dentro
do seu próprio mundo. nossa geração quis dar o melhor para as crianças e os
jovens. Sonhamos grandes sonhos para
eles. Procuramos dar os melhores brinquedos, roupas, passeios e escolas. Não queríamos que
eles andassem na chuva, se machucassem
nas ruas, se ferissem com os brinquedos caseiros e vivessem as dificuldades pelas quais passamos. Colocamos uma televisão na sala. Alguns pais,
com mais recursos, colocaram uma
televisão e um computador no quarto de cada filho. Outros encheram seus filhos de atividades,
matriculando-os em cursos de inglês, computação,
música. Tiveram uma excelente intenção,
só não sabiam que as crianças precisavam
ter infância, que necessitavam inventar, correr riscos, frustrar-se, ter tempo para brincar e se
encantar com a vida. Não imaginavam o
quanto a criatividade, a felicidade, a ousadia e a segurança do adulto dependiam das matrizes da memória e
da energia emocional da criança. Não
compreenderam que a TV, os brinquedos manufaturados, a Internet e o excesso de
atividades obstruíam a infância dos seus filhos. Criamos um mundo artificial para as crianças e
pagamos um preço caríssimo. Produzimos sérias consequências no território da
emoção, no anfiteatro dos pensamentos e no solo da memória deles. Vejamos
algumas consequências. Obstruindo a
inteligência das crianças e adolescentes Esperávamos que no século XXI os jovens fossem
solidários, empreendedores e amassem a
arte de pensar. Mas muitos vivem alienados, não pensam no futuro, não têm garra e projetos
de vida. Imaginávamos que, pelo fato de
aprendermos línguas na escola e vivermos
espremidos nos elevadores, no local de trabalho e nos clubes, a solidão seria resolvida. Mas as pessoas não
aprenderam a falar de si mesmas, têm
medo de se expor, vivem represadas em seu próprio mundo. Pais e filhos vivem ilhados, raramente choram
juntos e comentam sobre seus sonhos,
mágoas, alegrias, frustrações. Na
escola, a situação é pior. Professores e alunos vivem juntos durante anos dentro da sala de aula, mas são
estranhos uns para os outros. Eles se
escondem atrás dos livros, das apostilas, dos computadores. A culpa é dos
ilustres professores? Não! A culpa, como veremos, é do sistema educacional
doentio que se arrasta por séculos. As
crianças e os jovens aprendem a lidar com fatos lógicos, mas não sabem lidar com fracassos e falhas. Aprendem a
resolver problemas matemáticos, mas não
sabem resolver seus conflitos existenciais. São treinados para fazer cálculos e acertá-los,
mas a vida é cheia de contradições, as
questões emocionais não podem ser calculadas, nem têm conta exata. Os jovens são preparados para lidar com
decepções? Não! Eles são treinados apenas para o sucesso. Viver sem problemas é
impossível. O sofrimento nos constrói ou
nos destrói. devemos usar o sofrimento
para construir a sabedoria. Mas quem se
importa com a sabedoria na era da informática? Nossa geração produziu informações que nenhuma
outra jamais produziu, mas não sabemos o
que fazer com elas. Raramente usamos essas informações para expandir nossa qualidade de
vida. Você faz coisas fora da sua agenda
que lhe dão prazer? Você procura administrar seus pensamentos para ter uma mente mais tranqüila?
Nós nos tornamos máquinas de trabalhar e
estamos transformando nossas crianças em máquinas de aprender.